Demoramos de falar nesse assunto e nem tinha notado, até uma leitora que acompanha nossas matérias pedir que falássemos algo sobre a auriculoterapia ou terapia auricular, irei dedicar mais uma matéria ou duas sobre o assunto, já falamos sobre um artigo, iremos falar sobre outros.
Devido a facilidade e certa simplicidade em usar a técnica de acupuntura auricular, tem gerado um grande número de adeptos na área, seja tratando apenas com sementes ou sementes e agulhas, enfim, muitas pessoas estão sendo surpreendidas com essa técnica chinesa maravilhosa (mesmo que sintomático).
Terapia Auricular
A Auriculoterapia é uma variante da Acupuntura, na qual puncionamos pontos na orelha para a prevenção e tratamento de enfermidades. Existem registro destes pontos no livro Neijing e em outros documentos médicos das dinastias subsequentes. Este método foi usado pelo povo chinês durante muitos anos. Depois da Libertação, os médicos chineses haviam herdado e desenvolvido sua medicina tradicional e investigado os avanços científicos do exterior afim de conquistar uma compreensão final sobre a auriculopuntura. Hoje este método está dando grande resultados graças a prática e a sua sintetização.
Relações entre a orelha e os canais, colaterais e órgãos zang–fu
A medicina tradicional chinesa considera que a orelha não é um órgão isolado, mas sim um órgão que tem intima relação com os canais, colaterais e órgãos zang–fu. O Neijing diz que o qi e xue dos doze canais e seus 365 colaterais ascendem pela face e para o cérebro e suas ramificações chegam até a orelha mantendo assim a função auditiva normal. Assim foi estabelecido a relação entre a orelha e os canais e colaterais. Os seis canais yang entram ou chegam ao redor da orelha, por exemplo, o Canal do Intestino Delgado Taiyang da Mão, o Canal do Intestino Grosso Yangming da Mão, o Canal do Sanjiao Shaoyang da Mão e o Canal da Vesícula Biliar Shaoyang do Pé entram no ouvido, porém o Canal do Estômago Yangming do Pé e o Canal da Bexiga Taiyang do Pé passam pela região periauricular. Os seis canais yin conectam indiretamente com a orelha por meios das ramificações dos 12 canais. Dos canais extraordinários, o Canal Yangqiao e o Canal Yinqiao se reúnem atrás da orelha e o Canal Yangwei passa acima da orelha. Por tanto, o Neijing diz que a orelha é o lugar onde convergem os canais e colaterais.
Nos documentos médicos antigos também se encontram várias notas sobre a relação entre o ouvido e os órgãos zang–fu. Por exemplo, no Neijing fala que o qi do Rim está em relação com o ouvido. Somente quando o qi do Rim é suficiente, a função auditiva é normal, quando o jing (essência) do rim e a medula do cérebro são deficientes, dão origem tontura, tinnitus (zumbido), etc. A partir disso entendemos que o ouvido está relacionado também com os órgãos zang–fu fisiopatológicamente.
Em condições normais, a função fisiológica de várias partes do corpo se mantem em uma posição de equilíbrio e de coordenação relativa. Quando se perdem o equilíbrio e a coordenação, ocorrendo a obstrução dos canais, começam a apresentar algumas reações nas zonas correspondentes da orelha. Clinicamente, quando alguma parte do corpo sofre um transtorno, podemos curar com a auriculopuntura em certos pontos, correspondentes para promover a circulação de qi e xue, nos canais e colaterais e regular a função dos órgãos zang–fu.
Nomeclatura anatômica da superfície auricular
A orelha está composta por uma lâmina fibrocartilaginosa, os tecidos conjuntivos ricamente inervados. Os nervos principais são: nervo auricular maior e nervo occipital menor provenientes da segunda e terceira vértebra cervical, a ramificação auriculotemporal do nervo trigêmeo, a ramificação aurículo-posterior do nervo facial e a ramificação dos nervos vagos e glossofaríngeo.
Nomenclatura anatômica (Fig 1)
- Hélice
Parte que é uma proeminência semicircular que forma a borda superior - Cruz da hélice
Extremo inferior anterior da hélice, uma proeminência horizontal - Tubérculo auricular ou Tubérculo de Darwin
Eminência pequena na parte posterior superior da hélice - Raiz ou cauda da hélice
O extremo inferior da hélice, na união da hélice com o lóbulo da orelha - Anti-hélice
Eminência de cartilagem curvilínea proeminente da orelha, que fica no espaço que separa a hélice da fossa auricular e se bifurca em ramos inferior e superior. - Fossa triangular
Depressão entre os ramos inferior e superior da anti-hélice - Fossa escafóide
Uma depressão entre a hélice e a anti-hélice - Trago ou tragus
Eminência cartilaginosa curva e proeminente a frente do orifício do conduto auditivo externo - Incisura anterior do trago (supratrago)
Depressão formada pela hélice e a borda superior do trago - Antitrago
Uma pequena proeminência oposta ao trago e inferior a anti-hélice - Incisura inter-tragiana
Depressão formada pelo trago e anti-trago - Fossa do anti-trago
Depressão entre o anti-trago e anti-hélice - Lóbulo da orelha
Porção muscular inferior da orelha (onde não há cartilagem) - Concha cimba ou cymba
Porção superior da concha da orelha acima da cruz da hélice - Concha cava
Porção inferior da concha da orelha, inferior a cruz da hélice - Orifício do conduto auditivo externo
Saída da concha cava que é coberta pelo trago (não coloquei na imagem)
Pontos da auriculopuntura
Os pontos auriculares são pontos específicos para tratar enfermidades por meio de sua estimulação. Quando algum dos zang-fu ou alguma parte do corpo sugere um transtorno, as parte correspondentes da orelha aparecem reações como dor, mudanças morfológicas e de cor, variações da resistência elétrica. Podemos ter esses fenômenos como referência no diagnóstico e aplicar o estímulo nestes pontos sensíveis para a prevenção e tratamento da enfermidade. Estes pontos sensíveis denominamos pontos dolorosos a pressão, pontos de maior condutividade ou pontos sensíveis.
As diferentes regiões do corpo encontramos em certas áreas da orelha. Geralmente o lóbulo corresponde a cabeça e a bochecha, a fossa escafoide corresponde as extremidades superiores, a anti-hélice e suas ramificações superior e inferior as extremidades inferiores e ao tronco, a concha cimba e a concha cava corresponde as vísceras. Demonstrado na figura 2.

Nota
A auriculoterapia possui várias escolas, embora todas partindo da chinesa, algumas escolas mudaram alguns pontos ou acrescentaram outros. Assim pode ser que você ache outros mapas auriculares com pontos em locais diferentes e com diversos pontos com nomes de doenças ou com partes bastante específicas do corpo nas partes que estão em branco na escola chinesa.
Vale lembrar também que os métodos de diagnóstico e tratamento da auriculoterapia pode diferenciar e muito (o que justifica a busca por outros pontos). Por exemplo, se usamos a auriculoterapia baseado nas teorias chinesas (no tripé Yin-Yang / Zang-fu / cinco movimentos ou elementos) o diagnóstico e tratamento é muito mais profundo e não necessitando de uso de tantos pontos, o que é bom para o paciente e para o acupunturista, já no caso mais disseminado nos cursos hoje são por pontos e patologias gerais e locais, sendo assim precisa-se de mais pontos para tratar os locais específicos. Assim conseguimos saber quem trata mais holisticamente, ou seja no todo a nível sistêmico, e quem é mais material, local ou sintomático.